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01 maio 2009

GARRINCHA, Alegria do Povo (filme)

Ano: 1963
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Produção: Luiz Carlos Barreto e Armando Nogueira
Roteiro: L.C. Barreto, Armando Nogueira e Joaquim Pedro
Fotografia: Mário Carneiro
Narração: Heron Domingues

As filmagens e um processo trabalhoso de montagem foram feitos em 1962. O Brasil era perfeito: em 1962 o Brasil foi bicampeão mundial de futebol; O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte foi palma de ouro em Cannes; Tom Jobim gravara com Frank Sinatra em Nova Iorque, a Bossa Nova era um sucesso mundial; cultural e economicamente eufórico, o Brasil era o país do futuro. Ninguém poderia prever um golpe em 1964.

Logo nos primeiros minutos do filme já é possível perceber que este, provavelmente não poderia ter sido feito por um jornalista, pois a preocupação com a imagem, a maneira falar/contar com imagens era clássica de um cineasta.

O documentário é iniciado com uma montagem rápida de fotos, música e som de máquina de escrever. Depois a música pára, os jogadores aparecem se preparando no vestiário, intercalados com imagens da torcida na arquibancada do Maracanã. Não há narração, que seria uma opção fácil, óbvia. Nesse caso a ausência de som, também é importante, pois te faz pensar no que vai acontecer adiante e se perguntar por que aquelas pessoas estão ali.

A cena continua sem narração e é mostrada uma panorâmica, em leve plongeé, de pessoas na geral, todas com guarda-chuvas, sob chuva. Ouve-se o som ambiente de vozes no estádio, os jogadores começam a entrar em campo. Do jeito que as imagens foram montadas, tornou a narração dispensável, pois nos fez ver claramente que, se aquelas pessoas estão ali, mesmo debaixo de chuva, para ver um jogo de futebol, é porque são apaixonadas pelo esporte e que aquele é um grande jogo pra elas.

Durante treino de Garrincha e dos outros jogadores do Botafogo, no Estádio Caio Martins, a narração diz que o treino é cansativo, que os jogadores só têm folga uma vez por semana, no domingo. E em seguida é mostrado um clipe de cenas curtas dos jogadores se exercitando, ao som de música clássica, que me lembrou o filme “Metrópolis”(1927), de Fritz Lang, pois dava a sensação dos jogadores estavam sendo, metaforicamente, comparados à máquinas, como se eles estivessem sendo mecanizados, entrando num esquema industrial.

O som é mesmo um ponto alto de “Garrincha”. As músicas escolhidas, na sua maioria sambas e marchas sobre futebol casam muito bem com as imagens. O cuidado de Joaquim Pedro pelo som é notório. Em determinado momento vê-se a imagem da torcida nervosa, olhos arregalados, rostos ansiosos, nesse exato momento escuta-se o som de um coração batendo/pulsando. Em suma, o som teve função dramática.

O roteiro é parecido com um roteiro de ficção, na medida que não obedecia uma narração cronologicamente rigorosa de documentário, evoluía para um clímax. É dividido em blocos narrativos, separados mas bem costurados/montados: o vestiário > os jogadores > a torcida ansiosa > o jogo > a tensão da torcida > o(s) gol(s) > a comemoração.

O humor de Joaquim também se fez presente em vários momentos, aliado mais uma vez à preocupação com a imagem. Por exemplo, quando são mostrados alguns trechos de jogos da seleção jogando no exterior - cenas únicas de arquivo da televisão, que, portanto, não poderiam ser refilmadas por serem cenas, fatos reais – a narração diz coisas do tipo: “como você pode ver nessa péssima imagem” e “o cinegrafista ficou tão aborrecido com o juiz que até perdeu o foco”.

Se, hoje, a corrupção no futebol estampa as manchetes de jornal, ao assistir “Garrincha” percebemos que o esquema de enriquecimento ilícito e interesses políticos que existem atrás do futebol, definitivamente não são fatos recentes.

É importante ressaltar que Joaquim Pedro participou de praticamente todas etapas e equipes do filme: dirigiu, fez câmera, ajudou a escrever o roteiro, e participou da montagem de imagem e de som, além da escolha das músicas.

Garrincha” recebeu o Prêmio Carlos Alberto Chieza, de melhor filme sobre esporte, no Festival de Cortina d’Ampezzo, na Itália, em 1964.
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